Apesar dos avanços, a presença feminina em cargos de comando ainda enfrenta barreiras invisíveis – superá-las é estratégico e necessário.
A inserção das mulheres no mercado de trabalho é uma das grandes transformações sociais do último século. No entanto, quando o assunto é ocupar cargos de liderança, os números revelam que ainda há um longo caminho a percorrer. Segundo a pesquisa Women in Business 2024 (Grant Thornton), apenas 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres. Embora esse índice seja superior à média mundial, está muito distante de refletir a presença feminina no ensino superior ou no próprio mercado de trabalho.
Esse cenário é resultado de barreiras históricas e culturais. O chamado “teto de vidro” simboliza justamente as dificuldades invisíveis que impedem a ascensão das mulheres a posições de comando. Essas barreiras vão desde preconceitos sutis, como a desconfiança sobre a capacidade de liderança feminina, até questões estruturais, como a sobrecarga com o trabalho doméstico e a ausência de políticas corporativas que favoreçam a conciliação entre carreira e maternidade.
Ainda assim, é preciso reconhecer avanços. Hoje, vemos mulheres liderando grandes empresas, startups inovadoras, cooperativas e empreendimentos sociais. Pesquisas indicam que companhias com maior diversidade de gênero em cargos de gestão apresentam melhores resultados financeiros, mais inovação e maior capacidade de retenção de talentos. Em outras palavras, promover mulheres à liderança não é apenas uma questão de justiça: é também uma decisão estratégica para qualquer organização que deseja crescer de forma sustentável.
O desafio, portanto, é transformar exemplos individuais em realidade coletiva. Para isso, são fundamentais ações como programas de mentoria e formação de lideranças femininas, políticas de equidade salarial, combate efetivo ao assédio no ambiente corporativo e incentivo à participação das mulheres em conselhos de administração. Também é essencial desconstruir estereótipos de gênero que ainda associam liderança a características masculinas, como agressividade e competitividade, em detrimento de valores como empatia, colaboração e diálogo.
A liderança feminina representa mais do que ocupação de cargos. Significa trazer novas perspectivas para a gestão, valorizar diferentes formas de conduzir processos e abrir portas para que outras mulheres também acreditem em seu potencial. Quando uma mulher ocupa um espaço de decisão, ela não o faz apenas por si: ela amplia horizontes para toda uma geração.
O Dia do Administrador - 9 de setembro - é uma boa oportunidade para refletir sobre esse tema. Afinal, falar em Administração é falar em liderança. Que seja, cada vez mais, uma liderança plural, diversa e representativa, capaz de transformar organizações e, consequentemente, a sociedade.
Dra. Débora Garcia Duarte
Advogada. Mestre em Direito (UENP - Jacarezinho). Professora universitária e coordenadora da FIT.
Autora da obra Reveng Porn: a perpetuação da violência contra a mulher na internet e o poder punitivo.
Pesquisadora na área de direitos das mulheres e doutoranda pela FCA - UNESP Botucatu.