Um chamado urgente para que a sociedade desperte diante da escalada da violência de gênero no país.
Nos últimos dias, temos sido arrastados por uma onda de violência contra a mulher que cresce diante dos nossos olhos, sem sequer nos dar tempo para respirar. Cada caso que vem à tona, cada história que surge com força nas redes e na imprensa, expõe uma realidade que não é nova — mas que está cada vez mais escancarada, mais brutal e mais próxima do que gostaríamos de admitir. Confesso que, como tantas pessoas, também me sinto tomada por esse impacto. É impossível ver tudo isso e não sentir que estamos todos sendo afogados por um ciclo que insiste em se repetir.
A violência contra a mulher não é um episódio isolado, não é exceção e muito menos “fatalidade”. É o sintoma de uma estrutura que ainda normaliza o controle, o silenciamento e a desumanização feminina. E, por mais duro que seja reconhecer, ela não acontece em outro lugar, com outras pessoas. Ela acontece AQUI, AGORA, ao nosso lado. É SOBRE NÓS. Sobre as mulheres que conhecemos. Sobre as que nunca conheceremos, mas que também merecem viver sem medo.
Mas esta coluna não é um desabafo isolado. É um chamado. Um pedido, quase um apelo, para que a coletividade desperte — para que cada um de nós compreenda que enfrentar esse problema é uma responsabilidade compartilhada. Não basta lamentar as manchetes, comentar nas redes ou sentir indignação passageira. Precisamos transformar esse incômodo em ação: em vigilância comunitária, em apoio a vítimas, em cobrança por políticas públicas eficazes, em intolerância absoluta diante de justificativas que tentam suavizar o que é brutal.
Porque, se a violência persiste, não é apenas pela ação de quem a comete. É também pela omissão de quem vê e não intervém; de quem sabe e não denuncia; de quem normaliza o que jamais deveria ser normal. É duro admitir, mas necessário: enquanto a sociedade tratar o feminicídio como rotina, ele continuará sendo rotina.
O que proponho aqui — o que convido você leitor a fazer junto comigo — é abrir os olhos de verdade. Enxergar o problema sem desviar o rosto, sem relativizar, sem fingir que é “um caso a mais”. É ENTENDER QUE CADA NOVO CASO CARREGA A URGÊNCIA DE MUDAR. Que cada vida perdida é um sinal vermelho que estamos ignorando há tempo demais.
Enquanto essa onda tenta nos afogar, precisamos remar juntos. É na união, na consciência coletiva e na disposição de agir que podemos transformar esse cenário. E talvez seja justamente esse movimento — o de despertar — que consiga, enfim, reverter a maré.
Dra. Débora Garcia Duarte
Advogada. Mestre em Direito (UENP) Professora universitária.
Autora da obra Reveng Porn: a perpetuação da violência contra a mulher na internet e o poder punitivo.
Pesquisadora na área de direitos das mulheres e doutoranda.