A maternidade é um caminho bordado com descobertas, medos e uma infinidade de amor. Mas quando esse caminho é cruzado por desafios inesperados, o que floresce é algo ainda mais poderoso: a resiliência do amor incondicional. Essa é a história de Eliane Garcia, de Taquarituba, uma mãe solo que encontrou em seu filho Antônio, hoje com 24 anos, o grande amor e propósito de sua vida.
Quando o amor chega de surpresa
Eliane tinha apenas 24 anos quando a vida lhe presenteou com uma surpresa: a gravidez de Antônio. Não foi planejado, mas foi sentido - com intensidade, com entrega, com medo. “Foi um momento de bobeira que me deu o maior sentido da minha vida”, relembra, com ternura.
O parto foi difícil. Antônio sofreu asfixia neonatal, engoliu mecônio e, como consequência, teve paralisia cerebral. O lado esquerdo do seu corpinho ficou comprometido. Desde então, nunca andou - mas aprendeu a voar, com a força do amor da mãe, sentado sobre as rodas que hoje o conduzem com dignidade e alegria.
Quando a dor encontra a fé
Aos oito meses, vieram os primeiros sinais: o desenvolvimento era diferente. “Diziam que ele era estranho...e eu sabia que ele era diferente, mas a mãe... a mãe demora pra aceitar”, diz Eliane, com a voz embargada de lembrança e coragem.
O diagnóstico foi um baque: paralisia cerebral e deficiência intelectual. Uma carta recomendava que ela procurasse a Apae de Taquarituba. E junto da carta, palavras duras como: “Ele não vai falar, não vai se alimentar direito, não vai andar”. Para uma jovem mãe, sozinha no mundo, era como ouvir o tempo parar.
Mas foi na Apae que o tempo voltou a correr, só que agora, na direção do amor. “Eles me pegaram pela mão e disseram: você vai ficar de pé”. Ali, Eliane reaprendeu a caminhar - não com os pés, mas com o coração. E Antônio também. Ele frequenta a instituição até hoje, aos 24 anos, com um brilho no olhar que conta histórias de superação.
O colo que acolhe outras mães
Transformada pela maternidade, Eliane decidiu ser colo para outras mulheres. Hoje, faz parte do grupo “Mães Abençoadas”, com 33 mães que trocam vivências, lágrimas, risos e forças. “Ser mãe de uma pessoa com deficiência exige um apoio que nem sempre está à vista. A gente se reconhece e se sustenta”, conta.
Amor de família e fé que não falha
Em sua jornada, Eliane não esteve completamente só. Um coração especial também a acompanhou: seu irmão, Padre Carlos Garcia, pároco de Fartura, é figura essencial na vida de Antônio. “Ele ama o tio padre. Sempre pergunta por ele, se alegra quando estão juntos”.
A fé que une essa família foi alicerce. “Deus colocou pessoas especiais no meu caminho. Meu irmão me deu força quando eu achava que não ia conseguir. Me ensinou que o amor vence tudo”.
Nos primeiros anos, Eliane admite que se revoltou com Deus. “Gritava: por que, Deus? Eu queria um filho normal!” Mas bastava olhar para o sorriso de Antônio para sentir uma resposta silenciosa e poderosa: “Mãe, será mesmo tão ruim ser minha mãe assim”?
Um milagre chamado Antônio
Hoje, contrariando tudo o que os médicos disseram, Antônio fala. E fala com o coração. Escreve textos, grava vídeos e encanta com suas palavras doces. Ele não caminha, mas emociona. Não corre, mas toca corações com seu olhar cheio de vida.
A rotina foi dura: noites em claro, terapias, hospitais, batalhas silenciosas. “Não vivo muito a minha vida, vivo a vida do Antônio”, confessa Eliane. Mas agora ela sabe: esse é o maior presente que poderia ter recebido.
“Quando penso naquela mãe rebelde que não aceitava, vejo o quanto Deus me presenteou. Antônio tem um coração de ouro, uma bondade imensa e um sorriso que transforma tudo ao redor”.
Ser escolhida pelo amor
Eliane, hoje com 49 anos, carrega consigo a certeza de que foi escolhida. “Não fui eu que escolhi ser mãe do Antônio. Foi Deus que me escolheu e sussurrou: “Você é capaz”.
E ela foi - e continua sendo. Uma mãe abençoada, feita de força, fé e ternura. Uma mulher que aprendeu, na prática, que filhos especiais exigem mães extraordinárias. E que, no fim, são eles que nos mostram o verdadeiro significado do amor.