Maria Júlia Ferreira, da Doce Encanto, começou na pandemia e hoje tem mais de 30 variedades de brigadeiro no cardápio, além de bolos, tortas e doces finos
Aos 28 anos, Maria Júlia Ferreira já é referência em brigadeiros gourmet em Taguaí, município no interior de São Paulo. Dona da Doce Encanto, ela começou ao lado da irmã vendendo três sabores do doce durante a pandemia. Hoje, ela toca a empresa ao lado da mãe e possui no cardápio mais de 30 variedades de brigadeiros, além de bolos, tortas e doces finos para festas e casamentos. Tudo produzido na cozinha de casa, com vendas 100% pelas redes sociais.
Em 2020, depois de perder o emprego, Maria Júlia buscava uma forma de complementar a renda e começou a pensar no que poderia criar e vender. Foi aí que os brigadeiros gourmet surgiram como possibilidade. “Os doces não eram a minha paixão inicial, eles se tornaram. A confeitaria entrou na minha vida quando eu estava perdida e me ensinou a recomeçar”.
O que começou como renda extra virou profissão, propósito e exemplo de que a cadeira de rodas não impede ninguém de empreender. “A primeira coisa que me veio à cabeça foi: ‘será que vão me levar a sério? Será que vou dar conta?’. Ser uma pessoa em cadeira de rodas no Brasil é viver com desafios diários, desde acessibilidade até o olhar das pessoas. Então, naturalmente, eu tive medo. Porém, a nossa mente nos trava, é ela que nos impede de ir atrás dos nossos sonhos. Mas algo mudou quando percebi que a minha cadeira não me limita… ela apenas me acompanha e me dá ainda mais liberdade. Eu entendi que, se eu me deixasse paralisar pelos meus pensamentos, nunca começaria.
Preferi me concentrar no que eu sabia fazer: cozinhar com amor, entregar qualidade e atender com carinho”.
Há dois anos, a jovem fez suas primeiras capacitações pelo Sebrae-SP, participando dos cursos de Doces brasileiros e Doces sem glúten e sem lactose. Neste ano, ela fez a capacitação em Doces Finos, ofertado em parceria com a Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de Taguaí. “A troca de conhecimento nos cursos é incrível. Sempre saio com novas receitas e ideias para o cardápio. Pretendo continuar estudando, porque cada aprendizado vira novidade para os meus clientes”.
A produção da confeitaria é feita na cozinha adaptada da casa da família. Ao lado da mãe, ela planeja a semana, cria conteúdo para o Instagram, produz, embala e entrega. Quando surgem grandes encomendas para casamentos e festas, o ritmo acelera: “Focamos 100% naquele pedido e, se precisar, viramos a noite para entregar com a qualidade que o cliente merece”.
Entre os momentos mais marcantes da Doce Encanto, está a criação do tartelette de limão para o casamento da irmã. O sucesso do doce foi tão grande que entrou de vez no cardápio e carrega um significado enorme: além do sabor, representa memória, afeto e um momento especial para a família.
Maria Julia conta que ser uma pessoa em cadeira de rodas no Brasil é lidar com desafios diários, principalmente com questões de acessibilidade. “Não é fácil, existem muitas barreiras e falta de acesso, mas também há muita gente do bem, disposta a ajudar para que possamos ter as mesmas oportunidades que qualquer outra pessoa. É transformar essas dificuldades em aprendizado, mostrar capacidade e abrir caminhos para quem vem depois”.
A confeiteira deixa um recado para outras pessoas com deficiência que querem empreender. “O sonho não tem limite: vá no seu tempo, confie no seu potencial e não deixe sua condição definir quem você é. Empreender não é sobre perfeição, é sobre coragem, constância e vontade de aprender. Comece com o que tem, onde está e vá evoluindo”.
- Taguaí