Agosto chegou. E com ele, mais uma vez, o chamado coletivo à reflexão e ao enfrentamento da violência contra a mulher — um problema estrutural, cotidiano e muitas vezes silenciado.
O Agosto Lilás não é uma campanha meramente simbólica: é um grito urgente e necessário que reverbera dentro de lares, instituições e relações em que o medo ainda é a língua dominante. Amparada pela Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), a campanha visa informar sobre todas as formas de violência — física, psicológica, moral, patrimonial e sexual — além de promover mecanismos de prevenção, denúncia e proteção.
Como mulher, advogada, professora universitária, escritora e pesquisadora, sempre estive do lado da conscientização. Escrevi, lecionei, palestrei e atuei em defesa de mulheres em situação de vulnerabilidade. Sempre estive ao lado de quem dizia: “você não está sozinha”.
Mas hoje escrevo também como alguém que conhece de perto a dor que essa pauta carrega — e não apenas como defensora.
Ao viver uma relação que se iniciou sob o véu do encantamento, do respeito e da admiração — ao menos na aparência. Quando a utilidade acaba surgem os sinais: o controle disfarçado de cuidado, o silenciamento gradual da presença, o apagamento da identidade, o abandono súbito e premeditado de quem tipicamente não tem coragem de encarar as violações cometidas repetidamente.
Sinais sutis, mas reveladores, de uma violência velada que tantas mulheres enfrentam em silêncio.
Ao vivenciar tudo isso, compreendi — na pele — que a violência contra a mulher não tem rosto definido. Ela atinge a todas: profissionais, mães, acadêmicas, anônimas, jovens ou idosas — inclusive aquelas que ocupam um pequeno espaço de fala na sociedade.
Ela se manifesta nas sutilezas do controle, nas distorções da culpa, nas chantagens emocionais, nas humilhações silenciosas. E, muitas vezes, no abandono planejado, que destrói não apenas projetos de vida, mas a própria identidade da mulher.
É preciso nomear a violência, para então enfrentá-la. E é preciso dizer, com todas as letras: abuso não é amor. Controle não é cuidado. Silêncio não é paz. É invisibilidade. É apagamento. É dor. E é, sim, violência.
Por isso, neste Agosto Lilás, faço um chamado como cidadã, educadora e mulher:
rompa o silêncio. Reconheça a violência. Peça ajuda. Denuncie.
E a quem observa de fora — talvez sem compreender ou, pior, julgando — deixo um apelo: escute antes de opinar. Acolha antes de acusar.
Porque toda vez que uma mulher se cala por medo, o ciclo se fortalece.
Mas toda vez que uma mulher fala — com coragem, com consciência e com verdade — algo se rompe. E é assim que a mudança começa!
Dra. Débora Garcia Duarte
Advogada. Mestre em Direito (UENP - Jacarezinho). Professora universitária e coordenadora da FIT (Faculdades Integradas de Taguaí). Autora da obra Reveng Porn: a perpetuação da violência contra a mulher na internet e o poder punitivo. Pesquisadora na área de direitos das mulheres e doutoranda pela FCA - UNESP Botucatu.